quarta-feira, 28 de março de 2012

Antes de matar um produto, libere o código!



O conhecimento contido em gadgets aposentados poderia ajudar a pesquisa em universidades e países pobres

por Phillip Torrone

Editora Globo
Mais um mês se passa. E outra companhia decide acabar com um produto, mesmo após gastar milhões de dólares e anos de pesquisa. Em 2009, a Cisco adquiriu da Pure Digital os direitos das câmeras com visor giratório. Os celulares estavam começando a ficar tão bons para tornar a novidade obsoleta e, agora, a ideia está indo para o brejo de vez.

Algumas empresas vão à falência, outras interrompem os produtos que não são lucrativos mas, no fim, para onde vai todo o conhecimento de fabricação? Para lugar nenhum. Em um mundo onde tudo é descartável, será uma boa hora para exigir grupos que produzam coisas necessárias à sociedade, além de apenas se preocuparem com os lucros?

Se as empresas vão simplesmente encerrar a produção, por que não liberam os direitos desses equipamentos? Poucas fazem isso hoje em dia, enquanto outras, como a Nokia, prometem abrir, mas acabam trancafiando tudo de novo.Um exemplo disso está no esforço da Sony para produzir robôs. O AIBO, um dos muitos animais mecânicos produzidos pela companhia, já teve vários modelos desde o lançamento, em maio de 1999. Eles podiam andar, ver o ambiente ao seu redor com uma câmera e até obedecer a comandos em inglês e em espanhol. Hajime Sorayama foi o nome por trás do design que, hoje, faz parte das coleções permanentes do Museu de Arte Moderna de Nova York e do Instituto Smithsonian. Cerca de 120 mil cães AIBOs foram vendidos até a Sony encerrar sua produção em 2006, com a intenção de deixar a companhia mais lucrativa.


Editora Globo
Imagine o avanço na robótica que teríamos se esses projetos, que representam décadas de pesquisa, fossem abertos para que essa tecnologia pudesse ser estudada em universidades. Um gesto desse poderia ajudar a melhorar a imagem da companhia, prejudicada após mais de 75 milhões de dados pessoais de usuários terem sido hackeados e postados na internet. Doar essa tecnologia de robótica é só um desses passos possíveis.

E o palm, lembra quando todo mundo tinha um? Pois é, esses dias já eram e a empresa foi comprada pela HP, em 2010, por US$ 1,2 bilhão. Os aparelhos aposentados não são úteis comercialmente, mas a aplicação da tecnologia eletrônica para computadores de baixo custo para nações em desenvolvimento é infinita. O projeto Um Computador por Criança poderia usar os segredos do Palm e fabricar notebooks mais baratos que os atuais, que custam US$ 100.

Agora, imagine ficar online em qualquer lugar a qualquer hora, com velocidade de banda larga — bom, você já pode agora, mas em 1999 só a Ricochet conseguia dar isso. A grife foi comprada no mesmo ano por algumas vezes. Nessas idas e vindas, acabou morrendo, em 2000. Talvez, teríamos uma conexão bem diferente da atual ou até mais barata e rápida, se ela não tivesse desaparecido. A lista continua e não tem hora para acabar.

Phillip Torrone é editor da Make, revista americana de tecnologia, e diretor de criação da Adafruit Industries, empresa de open source de hardware e eletrônicos.

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